domingo, 9 de janeiro de 2011

Adormecida - Castro Alves

Olá, criancinhas!
Como vão? Espero que bem. Como podem ver (ou não), tenho sido bem mais assídua nas postagens. Acho que finalmente consegui me organizar para postar de maneira menos espaçada e com temas mais planejados.
Hoje, no entanto, em vez de um tema, tenho um poema.
Assim que li Espumas Flutuantes, há muitos anos, fiquei completamente embriagada pela beleza doce e simples do poema "Adormecida". Então, para os que não tiveram a chance de lê-lo, segue abaixo. Espero que gostem.

Adormecida (Antônio de Castro Alves)

Uma noite eu me lembro... Ela dormia
Numa rede encostada molemente...
Quase aberto o roupão... solto o cabelo
E o pé descalço do tapete rente.

'Stava aberta a janela. Um cheiro agreste
Exalavam as silvas da campina...
E ao longe, num pedaço do horizonte
Via-se a noite plácida e divina.

De um jasmineiro os galhos encurvados,
Indiscretos entravam pela sala,
E de leve oscilando ao tom das auras
Iam na face trêmulos — beijá-la.

Era um quadro celeste!... A cada afago
Mesmo em sonhos a moça estremecia...
Quando ela serenava... a flor beijava-a...
Quando ela ia beijar-lhe... a flor fugia...

Dir-se-ia que naquele doce instante
Brincavam duas cândidas crianças...
A brisa, que agitava as folhas verdes,
Fazia-lhe ondear as negras tranças!

E o ramo ora chegava, ora afastava-se...
Mas quando a via despeitada a meio,
P'ra não zangá-la... sacudia alegre
Uma chuva de pétalas no seio...

Eu, fitando esta cena, repetia
Naquela noite lânguida e sentida:
"Ó flor! — tu és a virgem das campinas!
"Virgem! tu és a flor da minha vida!..."

São Paulo, Novembro de 1868

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